terça-feira, 11 de outubro de 2011

on the way home

O futuro realmente não é mais como era antigamente. Em 11 de outubro de 1996, Renato Russo deixava uma legião de fãs órfãos e um buraco gigantesco no rock nacional.

E desde que me lembro, sou fã de Legião. Daquelas que tinha orgulho de ir na perua escolar cantando faroeste enquanto as outras criancinhas nem entendiam o que a música dizia. Por muito tempo, também não entendi. Mas cantava.

Parando pra pensar em tudo isso, percebi que há músicas que ficam com cheiro de gente. Acordes que parecem envolvidos em uma nuvem de perfume conhecido, aquele perfume que um dia já ficou grudado no seu travesseiro. Talvez nem seja perfume, talvez seja o cheiro da pele, isso, o cheiro da pele que se acostumou com as fronhas e lençóis e, por dias, semanas, meses, anos, ficou ali. O cheiro que ficou ali até que você tivesse coragem de trocar a roupa de cama. Trocar a roupa de cama é o momento em que você se prepara para se libertar daquele cheiro, talvez nunca mais senti-lo novamente.

As palavras cantadas na voz de Renato têm cheiro de vida. Minha vida, cantada por ele.

Tem quinze anos que ele foi e levou todas as respostas. Como disse o Dado uma vez “Ele foi e não tive tempo de perguntar um monte de coisas que queria. Que estavam aqui na garganta. E agora, não posso mais.”

Não deu tempo de te conhecer, Renato. Não deu tempo de te perguntar. Mas quem sabe um dia eu escrevo uma canção pra você. Hoje somente agradeço por todas que você escreveu e hoje considero minhas, partes de mim. Obrigada, Renato.

"Eu continuo aqui, com meu trabalho e meus amigos. E me lembro de você em dias assim, dia de chuva, dia de sol. E o que sinto não sei dizer."

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

choices

Minha vida é feita de escolhas... erradas.
Se num segundo eu posso mudar tudo... eu tomo a pior decisäo.
E faço isso... várias vezes. O tempo todo.
E não tem volta.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

seasons


Jardins do Mundo (Gärten der Welt) em Berlim

Era inverno. Mas era a primeira vez que não sentia frio.
Era pintado de branco, como num globo de vidroq que a gente balança na mão para ver todos os flocos se mexendo lá dentro.
Era inverno e era assim que tinha que ser, como todas as coisas no tempo certo e na medida certa.

Até que então, desgelou. E os dias ficaram cinzas, nublados, chuvosos. E o coração se encheu de frio.
Foi quando percebeu, ali de baixo de um céu estrelado - desses que só existem nas meias estações - o desejo da primavera. Desejo...daquele que sempre estivera lá.

O desejo de dias mais calorosos que acabassem com essa solidão.

Cosplay de Hitler?



O mundo sabe como sou apaixonada por alemães (pelos russos também, claro!), apesar de toda a repudia de minha família - por associá-los sempre a questão da guerra-, que por muitas vezes me manda sair da sala quando estão discutindo histórias e afins, como ocorreu essa semana, em que meu pai estava assistindo um documentário e comentando com meu primo e quando eu disse "Pai..." ele logo soltou "Não, Wendy, não venha aqui defender esses alemães...sai daqui, não quero nem ouvir!" e eu, ingenuamente, queria perguntar onde estava o Gato. Enfim.

Acontece que, em meio minha fissura por este povo, acabei entrando em um blog de uma garota de intercambio e vendo essa foto, e depois de morrer de rir, cheguei a conclusão de que a foto foi tirada na cidade de Dresden.

Führer conservadão, sessenta e seis anos após a guerra, mas a Eva envelheceu, pobrezita.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Prisão

A culpa não existe. A mentira não existe.

(...) e até quando insistirás nessa

valsa grotesca nos cristais de palha?

Caio F. Abreu






Os olhos assustados como de quem acaba de acordar anunciavam que havia algo errado. Errado? Não possuia um conceito certo sobre esta palavra que, na verdade, nem gostava muito de pronunciar. Para si, isso não existia...tudo que existia era mais uma grande variedade de opções e caminhos, que ninguém nunca sabe onde levarão.


Mas naquela tarde, para qualquer um que olhasse, sentia que precisava fugir. Fugir. Correr. Sair. O mais rápido possível, caso contrário não sobreviveria, simplesmente não aguentaria. Os olhos cada vez mais vermelhos e as mãos roxas pelo vento daquele outono desgovernado.


Sem olhar para os lados, atravessou a rua entre os carros, que não eram muitos, mas ainda assim faziam esforço para se desviar. Chegou na porta e, em desespero, procurou as chaves no bolso grande do casaco verdade que também era grande e cobria por completo seu corpo pequeno e miúdo. Olhou para os lados ainda procurando a chave. Bateu a porta as suas costas fortemente, causando um estrondo que poderia ser comparado ao de um trovão numa daquelas noites de tempestada, quase que hollywoodianas. Entrou.


A rua permanecia quieta e tranquila. Como os pássaros se escondiam, o único som que se podia ouvir era o do vento batendo na folhagem das árvores que, apesar de outono, ainda continuavam firmes. Por quanto tempo? Quem sabe...


O casaco pesado se deixou cair no chão. Nem olhou para trás. Apenas se sentou no canto esquerdo da sala, perto da porta que levaria ao corredor principal e abraçando as pernas, como quem teme o mundo, abaixou a cabeça e cantarolou devagar e solene, como quem acalma um bebê com medo de escuro. Cantava e se deixava envolver pelo som - único - de sua própria voz que ecoava pela casa. Os olhos fechados. Apertados e tensos.


O frio aumentava e seu corpo tremia completamente, mas continuava no mesmo lugar, inerte, como quem espera algo. Uma notícia. Alguém. Nada. Porque não há nada pior no mundo que o grito estridente do silêncio, que corrói almas.


Ja anoitecera e nem se dera conta de quanto tempo passara ali. Um uivo longe e alto fez com que os olhos se abrissem num ímpeto e devagar, subisse a cabeça, se levantasse e fosse até a janela. Acontecera. Chegara. Enfim, os cachorros loucos haviam sido libertos.


Não poderia mais sair, não poderia, pois, os cachorros loucos com os olhos cheios de negra espuma não permitiriam mais e sabia que em breve eles chegariam. Afastou a cortina e olhou pra fora, onde viu a solidão e uma flor quase despercebida.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Simples, mente. Simplesmente.

O tempo passado, filtrado na memória e reproduzido no presente.

Caio F. Abreu



As pessoas vão-se tão depressa; vamos segurá-las.

Virginia Woolf





Olhava tudo a sua volta com extrema perplexidade e se perguntava como é que poderia alguém no mundo ser daquele modo. Calma e sossegada, do jeito que sempre fora, qualquer coisa que parecesse se distanciar um pouco disso já me causava profundo estranhamento. Mas não ela. Ela não me causava estranhamento, só uma vontade louca e súbita de...entender.



Pequena e graciosa, ela não parava. Simplesmente não parava, nem por um segundo que fosse. Durante os primeiros dias, imaginei que poderia ser pura excitação diante da novidade, do mundo novo em que se encontrava. Com o passar dos meses, notei o que era...na verdade, nada era, era simplesmente ela. Ela.



E talvez fosse isso que me cativasse tanto. De uma rapidez surpreendete, às vezes parecia não ser humana, mas sim um daqueles andróides super perfeitos vindos do futuro para tornar o mundo um lugar melhor e nos estudar, visando sempre melhorias.



Obssecada por números e por toda sua precisão, não sei como pode me aguentar até o outono. Mas apesar dessa aparência um tanto dura, seu coração era extremamente doce e sim, a menina pequena e obssessiva possuia um dos maiores corações que já tive a sorte de conhecer.



Em sua vigésima primeira primavera em um mês frio e maluco de outono, parei para me lembrar um pouco da pequena menina...e me dei conta de que, de fato, nunca nos perdemos uma da outra. Conversas sem nexo, um pouco de auto-ajuda e muitas, mas muitas risadas vieram a minha memória e de repente, sem que eu notasse, estava sorrindo. Porque tenho cada dia mais orgulho da pessoa que a menina-obssessiva-e-graciosa se torna, porque gosto e nutro um afeto e amor profundo por ela e porque...porque é ela e simplesmente ela e isso é tudo e já basta.



Todo amor que houver nesta vida à você, Rebeca, menina com nome de princesa, como diria a Rejana. Você será feliz, acredite! Mais do que pode imaginar.




Com amor,



Wendy

terça-feira, 19 de abril de 2011

Arrastando correntes

Sei que somos jovens e que tudo vai passar...

N. Altro


É esse gelo por dentro que eu não consigo entender.

Caio F.



Atravessou a rua como se fosse agosto, talvez porque este era o mês que, mesmo sem saber porque, sempre esperava. E de maneira rápida, correu por entre os carros da avenida, sem medo de morrer ou de que algo acontecesse...correu, desviou, respirou. Enfim, o ar.


Encostada no pequeno murou, parou e tentou aquecer as mãos umas nas outras de maneira rápida e suave, porque a sensação era de que o inverno chegara em pleno mês de março. São as águas de março fechando o verão...


Ao lado, o eterno tatuado com sorriso simpático. À frente as pessoas que corriam, apressadas, com rumo, sem rumo, desesperadas no caos que engolira aquilo que elas insistiam de chamar de vida. A vida é definitivamente uma ópera e vivê-la em doses homeopáticas não fazia o mínimo sentido que fosse. Era o que pensava.


Mas, a diferença entre o pensar e o fazer é o grande abismo que há. Abismo daqueles em que se ouve o grito da queda por minutos incessantes. De repente, tudo se perdeu em uma grande fumaça que tornaram o dia ainda mais acinzentado. Entrou no prédio e subiu. Porque tinha que subir. Porque chegara a hora. E mais uma vez, deixou-se levar pelo ritmo da voz, dentro da melodia monótona, angustiada, perplexa e repetitiva. Seguia seus instintos. E só.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Mais uma tarde

Cada época cria uma ideologia de que tem necessidade. Algumas pessoas não seguem e simplesmente vão contra a maré e nem se dão conta da importância que vão ter algum dia; ou talvez se deem, mas não se importam. Finjem não ligar. Às vezes dizer "deixa pra lá" cansa menos. A língua presa e o jeito doce (extremamente doce) não condiziam com o temperamente explosivo, descontrolado e completamente compulsivo. E assim era. Um misto de explosão com uma doce brisa calma, daquelas que bate no rosto e dá vontade de se deixar levar, sem nada pensar, apenas apreciar, sentir e sentir e sentir. Durou pouco, infelizmente. Foi embora antes que o sol pudesse enfim se pôr. Mas, de fato, jamais irá. Não por inteiro. Mais uma tarde pra levar o meu amor pra eternidade Meu amigo, por favor, me aguarde que a gente vai se encontrar E diante deste mundo careca e completamente careta sobreviverá gritando, berrando e espalhando a vontade de viver que tinha e teve até em seu último suspiro. Fechado, parado, sorriso, sereno. Essas são as imagens que guardarei deste que, efetivamente, nunca conheci, mas sinto ter estado perto da vida toda. A vida inteira. Ainda é cedo amor, mas começaste a conhecer a vida E já a anuncias a hora da partida, sem saber mesmo que rumo irás tomar O choro de todos aqueles que não conseguiram dizer o último adeus ao menino que sempre foi menino e que nunca deixará de existir.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Força

Nós nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e morremos sozinhos.

Somente através das amizades é que podemos criar a ilusão, durante um momento,

de que não estamos sozinhos.

Orson Welles

Os pequenos atos de cada dia fazem o desfazem o caráter.

Oscar Wilde


Foi a primeira pessoa que vi quando entrou. Alta e imponente, andou e sentou ao meu lado e com cara de poucos amigos, não disse uma palavra. Nem um pequeno sorriso que fosse. Nada. E, certamente, não foi ali que conversou, apesar de ter sido ali que as semelhanças apareceram.


Logo, descobri sua história.


Largara a faculdade por incompatibilidade. Na verdade, entrara já sem saber porque. Que bombas que nada, seu maior terror eram as crianças. Estes pequenos seres maldosos, mentirosos, pequenos e extremamente carismáticos a aterrorizavam até os ossos. Crianças. Acredito que ela terá doze. Doze pequenos seres correndo em volta desta mãe que mais parece uma amazona. Não em volume, mas em tamanho.


E eu, que perdera todo o sentido da palavra amizade em pouco tempo, (re)aprendia ali todo o seu sentido e significado. Sinceridade. Explosão. Bipolaridade. Ela era uma mistura estranha de tudo aquilo que...eu via. Sim, via em mim. E de uma forma muitíssimo esquisita, me sentia como num filme ou num sonho maluco daqueles em que você se vê tomando algumas atitudes e fazendo algumas coisas. Era ela. A parte que eu havia guardado dentro de mim e que manifestava aos poucos. E era real. Extremamente real e aos poucos, se tornava uma parte de mim.


E de tão rápido que o mundo gira, a menina quieta, séria que sentou-se por infortúnio do destino ao meu lado naquela manhã virou minha amiga. Sim, amiga. Não tenho medo de dizê-lo mais. Amiga daquelas que se sabe que pode contar até no breu da madrugada. Eu sabia que ela estaria lá se eu precisasse. Como sabia? Porque se ela precisasse, eu estaria lá, por ela. E como tudo na vida, já dizia Bentinho, devemos atar as duas pontas. Aquilo que fui com aquilo que seria...e parti.


Talvez até hoje ela não saiba, mas foi ela quem me fez forte para seguir, sem medo, outros caminhos escuros. Caminhos aqueles que a gente segue sem saber no que vai dar, sem saber o que esperar. Fui. Sem medo. Sem medo porque ela me ensinou assim, a não temer o desconhecido. Bravura. Força. Tudo dela que levei comigo. Em fato, a última vez que fiz o caminho, percebi que levei mais. Era uma parte dela que se apoderava de mim, de modo que eu podia. Poder. Saber. Vontade. Medo que eu não tinha mais.


E quando me falta algo, lembro da figura da menina quieta, aparentemente tímida, mas extremamente forte e assim, sigo em frente. Em seis meses, recuperei todas as partes de mim que faltavam. Especificamente 2 Rs e 2 Ts. Recuperei tudo. A fé (Tábata). A força (Tais). A doçura (Rejane). E a perseverança (Rebeca). Em fato, acho que nunca disse isso, mas queria que soubessem o quão elas me fizeram me (re)encontrar de novo. Hoje, pouco mais de um ano de toda essa mudança, devo agradecer.


Agradecer aquela quente manhã de fevereiro, em que a menina calada e séria sentou-se ao meu lado sem dizer uma palavra. Agradecer as tardes de conversas, aos abraços, risadas e sorrisos matutinos. Não apenas hoje agradeço, mas todos os dias. E a menina quieta, calada, séria e com olhar de falcão, me causa cada dia mais e mais e mais e mais orgulho.


Todo o amor, fé, felicidade e força. Muita força. Força daquela que você me passou e me ajudou a seguir em frente, sem temer a escuridão. Quando precisar, saiba que há alguém aqui, que mesmo longe, você pode contar. Te amo.



Com afeto,


Wendy Candido


São Paulo, 28 de março de 2011. 16h 45

Destino manifesto - a loucura

O sentido da lucidez nunca é o que agrada. A loucura amedronta, admira. Admirar. Daquela forma que traz medo e repulsa. O medo de enlouquecer por qualquer coisa que for faz com que você se prenda em um mundo qualquer e, prisioneiro, não possa mais se libertar. Abraça tua loucura antes que seja tarde demais. Abracei. Abracei como aquele que entrelaça o outro na despedida ou no reencontro. Como se nada mais houvesse. Como se a esperança tivesse partido e eu, apegada, tivesse isso como o tudo. Como quando se tem medo de perder. Ou pior: de ficar perdido. E o destino corre como o vento. Albert, Albert, o que é o destino, afinal? Deus não joga dados com o mundo. .É, quando o dramaturgo entra em cena a peça já está pronta. E pronta já estava. Talvez, sempre esteve, apenas não conseguia perceber com os olhos de mortais que tem medo de olhar e virar, de repente, uma estátua de sal. O medo que Ícaro não teve. Ícaro, não temo mais.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Doce.


Que o teu afeto me afetou é fato.
Caio Fernando Abreu



Suave como uma pluma e extremamente doce. Doce. Talvez essa fosse a melhor palavra que eu pudesse encontrar p'ra descrever aquela menina.

A primeira vez que a vi foi numa manhã qualquer em um lugar qualquer e, de imediato, achei que não nos daríamos bem. Mas o problema não era com ela. De meiguices, estava cansada; mas o pequeno sinal - que hoje interpreto assim - me mostrou que seria ao contrário. A mão.

Quem diria que, duas pessoas, de mundos diferentes, caminhos alternativos e extremamente opostas poderiam encontrar suas semelhanças no simples tamanho de sua mão. Mão. Aquilo que pode fazer gestos de carinho e ternura, mas também pode machucar.

E em tamanho, nossas mãos eram iguais. E se há algum momento em que pode-se dizer "tudo começou ali", eu digo "foi ali, aquele dia, aquela hora, aquele momento".

Piadas com o nome (claro) e futebol. Sim. Atrás daquela doçura, meiguice e encantamento, que é impossível fugir, descobre-se uma louca. Quase que fera. Ai daquele que atreva-se a falar de seu peixe. Peixe que estava destinada a ser. Desde o signo. Desde o sobrenome. Acasos do destino. Como diria o pai de Sancha, amiga de Capitu, esposa de Bentinho em Dom Casmurro "A vida tem mesmo destas semelhanças esquisitas". E eu, completamente entendida de história, política e futilidades, não entendia nada daquilo.

Quarta-feira. Quinta de manhã era o dia do aprendizado. E eu ouvia. Com gosto. Ouvia tudo que ela tinha a dizer sobre o jogo da noite anterior, jogadores e tudo mais. Aprendia.

Ela de mim, não sei se aprendeu muito. Talvez um pouco sobre a Segunda Guerra...talvez um pouco obre bipolaridade e tourette...talvez.

Seis meses. Cento e oitenta dias. Horas infinitas e absurdas. Foi o que passamos.

E o mesmo acaso do destino que nos fez encontrar ali, naquela segunda feira de verão, apenas unidas pelo acaso de ter as mãos com a mesma dimensão, tratou de separar-nos. E me fui.

Sinto. Falta, muita falta.

Das manhãs de quinta-feira. Dos trabalhos enlouquecidos. Da risada contagiante. Da maldade quase inocente, que cativa a todos que passem qualquer pequeno minuto ao lado dela. E mais da doçura de amizade que me proporcionou em poucos e singelos meses, os quais levo comigo. E lembro. Ah, sempre lembro.

Seja feliz, menina encantadora que praticamente saiu dos contos de fada!

O que houver de melhor nesse mundo é pouco p'ra tudo aquilo que você merece.



Com amor,


Wendy

quarta-feira, 16 de março de 2011

Furacão

A vida é breve, mas cabe nela muito mais
do que somos capazes de viver.

José Saramago


A gente não vê quando o vento se acaba...
Guimarães Rosa



Sempre fui completamente doente por tudo aquilo que, de algum modo, é alheio ao meu mundo. Basta eu não ter tido a oportunidade de viver algo para me interessar. Histórias. Vida. Impulso.

E foi assim que a conheci. Lembro-me de seu sorriso. Único. Sua voz tocante, berrada, sorrindo. Não era uma voz, e sim um instrumento musical que a cada dia se aperfeiçoava. Nunca ligou pro que diriam ou deixariam de dizer. Se falariam bem, se falariam mal, ela brigava, gritava, falava sem medo, assumia seus atos e suas jóias falsas. No riso, na dor, era um furacão.

E num domingo cinzento, com uma garoa fina, daquelas que molham tanto quanto uma chuva torrencial, ela se foi. Sem despedidas, ela partiu. Hoje, comovida - como ficaria se estivesse presente naquela manhã antiga - percebo que era hora da menina ir. Este planeta, parece não comportar a sensibilidade. Mas todos sabem que, como queria, virou uma estrela. Não uma qualquer, mas uma das mais importantes. E até hoje, quando ouço, seja nas manhãs, tardes ou noites, e mesmo após tanto tempo, vejo que ela ainda vive.



segunda-feira, 14 de março de 2011

Oswald e eu.

Nós somos canibais, é preciso não esquecer.
E respeitar a violência que temos.
Clarice Lispector



Como todos que me conhecem sabem, sou extremamente egoísta e talvez por isso, sempre sinta que não me encaixo nos lugares e é assim que vou mudando, de lugar em lugar. Talvez tudo isso também seja um pouco consequência de toda a infância lendo literatura que não era propriamente feita para crianças. Fora os filmes da Disney e o Sitio do Pica Pau Amarelo, nunca gostei muito de coisinhas "bobas".


É com oito anos que leio meu primeiro livro e me lembro até hoje, quando parava todas as tardes na janela do quarto e lia - com extrema dificuldade - a obra de Fernando Sabino. Lembro até hoje toda a história e os conflitos de Fernando, o personagem excentrico-quase-adolescente que passava por coisas que eu quase não entendia. Mas lia. E gostava.

Tempos depois, foi a vez de Mário de Andrade e o livro "Contos Novos". Toda a metáfora de Mário, passavam despercebida a singela pessoa que quase nove anos e sem atenção que eu era. E foi neste período, em que comecei a me interessar por história.

Os anos passam e me encontro com Mário - amigo tão íntimo quanto Drummond -na época do colegial. Só que desta vez, ele traz uma galera consigo. Galera a qual eu não nutria muito afeto. Em especial, Tarsilla - não sei, simplesmente não gosto! - e Oswald de Andrade.

Não sei porque, mas Oswald era extremamente insuportável p'ra mim. Ouvir a estúpida pronuncia do nome dele me causava calafrios e uma raiva impressionante. E tudo isso mudou quando notei que, pobre Oswald, também não se encaixava no grupo dos modernistas, apesar dos pesares.

O nosso grande divisor de águas foi o meu querido "Rei da Vela". A princípio, li com muito desgosto e por total obrigação. Entretanto, notava coisas na leitura que não tinha certeza se eram certas ou simples ideias de minha cabeça e, após conversar com um professor, ele me disse que eram verdades e, como sou extremamente chata, curiosa e questionadora, começou a contar-me como ocorreu a fatidica briga entre Oswald e Mario, que por coincidência do destino, possuiam o mesmo sobrenome.

Foi aí que meu olhar para ele mudou.

E tudo ocorreu após a semana de arte moderna. Villa Lobos, com o pé machucado, ouvira boatos de que Oswald teria zombado de seu estado físico e de sua apresentação, e na boêmia da noite paulista, o encontrou e foi tirar satisfação. De maneira simples, direta e sem constrangimento, Oswald riu e disse a seguinte frase: "Querido, Villa Lobos! Tu tocas divinamente; na verdade, quem disse tudo isso não foi este 'Andrade' que vos fala e sim, Mário."


Obviamente, Mário descobriu e dias depois, ao encontrar Oswald, atacou-o garrafadas e berros. E este seria o fim da relação entre os Andrades.

Muitos devem pensar que isso é extremamente estúpido. E talvez, seja mesmo. Mas foi ao ouvir tudo isso que comecei a mudar a visão que tinha sobre Oswald, que não concordava com ninguém e tinha suas próprias artimanhas e, cá entre nós, muita graça, para livrar-se das emboscadas da vida. Antropofagia, Oswald. Ele não conseguia ser comum. Pena, ninguém notou.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Com açúcar e com afeto

Que curioso. É verdade que temos nos encontrado
em outros sonhos.
Gabriel Garcia Marquez
-
E amanhã não desisto. Te procuro em outro corpo,
juro que um dia te encontro.
Caio F Abreu


Na verdade, nunca me olhou. Seja por falta de tempo, lugar, espaço; mas o efetivo encontro nunca ocorrera. Ainda assim, tocou meu coração de maneira inigualável, deixando-me sedenta de uma sede que não sei explicar de onde ou como vem. Sede. Fome. Necessidades humanas jamais explicadas, mas necessárias para a simples sobrevivência.

Era eu quem olhava pela primeira vez. Acendi um cigarro. Traguei a fumaça densa e suja, e por alguns instantes, uma tontura quase de embriaguez atingiu minha cabeça. Eu olhava-o e tentava me equilibrar.

'Às vezes, em outros sonhos, pensei que você é apenas
uma estatueta de bronze no canto de algum museu.
Talvez por isso sinta frio.'

O frio congelante diante da dificuldade de me manter em pé. Sensação efêmera. Será que teria gostado de escutar minhas sandices?

Brincas com o tempo sem dar-se conta da importância que ele tem. Ou talvez dando-se conta da importância, mas sem querer nada. E eu fico ali, rasgando-me. Serena. Incapaz. Imóvel diante de tudo, sem ter o que fazer a não ser esperar. Esperar o fim.

A simplicidade de fazer com que tudo pareça fácil atraia meu olhar para você. E em um processo doloroso, vou me apegando, sentindo, sofrendo.

Há vários anos nos víamos. Eu via, ao menos. Quase cem? Vá, é um número estupidamente ridículo. E pouco a pouco, compreendia que nossa amizade estava subordinada as coisas simples.

'Vem dar valor ao que é bom nessa vida
que é tolice viver por viver já é dia de
deixar p'ra trás, a dor e o tanto faz...'

E com o rosto colado na parede, ouço o vento bater lá fora. Silêncio. A respiração calma de alguém adormecido que acaba de se virar na cama, como que num sono confuso, inquieto. Assustador. E de repente, ver que sou eu ali, a dormir fez com que uma adaga quente transpassasse minha carne. A dor súbita de que quando você está prestes a morrer num sonho, automaticamente acorda.

Entre a respiração ofegante, o medo e a desconfiança do que é real e do que não é, tento buscar oxigênio.

Tocou-me. Entrou em minh'alma contaminando-a com uma melancólica tristeza alegre alaranjada de pôr-do-sol, que tenho muito orgulho de sentir. Agora sinto que sou mais parte do mundo que quero p'ra mim. Obrigada, Gabo.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Número Ímpar - uma tarde

Sejamos como a primavera que renasce cada dia mais bela...exatamente
porque nunca são as mesmas flores.
Clarice Lispector
....
Ninguém toma de ninguém esse tipo de coisa, ninguém.
Caio F. Abreu
...
.....-----,,,.
Nunca ninguém sabe dizer como começou. Simplesmente, quando podem se dar conta, as coisas estão ali, já em seu rumo. Destino? Vida.
...
E assim éramos nós. Sem explicação. Sem sentido. Simplesmente éramos.
...
Se os números pares eram o ápice da perfeição, iríamos contra qualquer lógica instituida pela matemática. Era o ímpar, o três, que deixava tudo completo. Diferentes. Completos. Unidade.
...
O primeiro era vindo de uma criação totalmente lógica. E foi a lógica, que hoje ele tanto abomina, que fez dele tudo que é hoje e o levou por esses caminhos, antes inesperados, hoje já conhecidos e dominados.
...
O segundo era cheio de dogmas e arramas. Puritanismo. Puro. Assim era. Aos poucos foi se libertando de todas as amarras, mas a essência nunca mudou.
...
Enquanto ela vivera desde sempre uma vida condicionada e sempre pedia desculpas até por aquilo que não fazia. Condicionada a aceitar e fazer tudo aquilo que lhe mandavam. Mas um dia ela mudou. Sem querer e sem saber porque. Simplesmente mudou. Se tornou impulsiva e (re)começou viver.
...
Quando eles se encontraram, o certo é que tudo desse errado. Mas não. Entre ódio, amor, cuidado e carinho, construiram algo. Inexplicável. Sem igual. Sem nome.
...
E passam os dias. Anos. Rumos diferentes.
...
E no fim do dia me encontro ali, no chão de uma sala e quando olho p'ro lado vejo os três. Diferentes. Mas os mesmos três que um dia, Deus sabe lá porque, se encontraram.
...
E é entre conversas sem sentido, risadas escandalosas, esganiçadas, abraços, alguns tapas que eu tive o prazer de descobrir o que é verdadeiro.

Domando demônios - parte II

Era uma fria manhã de verão, mas nem isso seria impecilho para seguir. O demônio se debatia dentro de mim e há tempos eu não tenho conseguido acalmá-lo e sabia qual era a única solução para anestesiá-lo.

Seguindo sem ouvir e nem prestar atenção no que diziam.


Ninguém vai me dizer o que sentir e eu vou cantar uma canção pra mim.


O caminho novo totalmente desconhecido em alguns passos foi adquirindo cara de lar. Os pés seguiam sozinhos, sabiam p'ra onde ir e como chegar.

E como há muito não acontecia, encontrei aquela sensação aconchegante de 'bem estar'. Calmaria. A brisa de uma simples tarde.

O tempo passa correndo. Os motivos de sorrisos simples logo vem e vão e acendem tudo aquilo que há muito não sentia e na verdade, nem lembrava como era. Bem estar bem.

Um sorriso. Um beijo. Um abraço. Um aceno. Mais sorriso. O abraço apertado da saudade. Importância. Afeto.

Sim. Pessoas vão e vem, e isso é algo inevitável e que aprendemos com a vida. Na verdade, sempre aprendemos com a perca. Algumas (às vezes) nem sabemos que estão ali. Mas estão. E é isso que importa.

E em meio a gritos e hinos de toda uma vida, finalmente encontro de novo tudo aquilo que perdi no caminho. Um longo caminho. Tudo volta ali.

Vontade. Querer. Acreditar. Ser. Encontrar.

Abraços suados e sorrisos completos.

Demônio semi morto acostumado a estar comigo e eu com ele.

E as amarras vão se afrouxando aos poucos e o controle vai sendo retomado, embora não completo, aos poucos. O tudo. Gabo, querido. Tarefa cumprida. Vida. Sangue. Suor.



Que se a vida é amarga, o pouco doce que me diz, já me faz alguém feliz.



Me entregando a mundos que não mais farão parte de ninguém. Somente a mim. E o egoismo, de repente, se torna mais bonito. Exorcizar faz bem.

terça-feira, 1 de março de 2011

Domando demônios - parte I

"Vamos começar por aquela singela tarde de novembro,
em que vi tudo mudar..."
Dom Casmurro

A sujeira proporcionada pelo cigarro engana e de certo modo aquieta o demônio faminto e devorador que há dentro de mim. Mas o pior de tudo nem é isso; pior é o fato de eu ter me acostumado com ele aqui, alimentado apenas para que ele se acalme. Sensações fulgazes de uma vida tão perdida.

E eu lembro da primeira vez que aprendi a domar (meus) demônios. Foi numa tarde quente de novembro naquele lugar sujo que me trazia a sensação de lar. Lar. Apenas uma enganação de tudo aquilo que queremos e procuramos.

Apinéia. Alice.

E foi ali, naquela singela tarde de novembro em que eu vi tudo mudar e se transformar.

E veio o álcool. A poesia. Baudelaire. Drummond, tão querido. Kafka. Sergei. Caio. E tantos mais que tornam tudo mais completo. O tudo. O nada.

E de repente, descobri a verdade. A verdade que estar errado é na verdade, nunca estar errado; tudo que pensamos que é errado não passa de algo que implantaram em nossa cabeça.

Então, sem notar, aos poucos, me libertava das amarras que me faziam condenar-me tanto.

Mas o demônio dominador continua aqui. Inquieto. Sedento. Dominador dessa alma que parece não ter sossego. Porém, agora, já consigo domá-lo. Insistindo. Persistindo.

Pois, é Bentinho, realmente, tardes de novembro podem mudar vidas.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

tão ruim viver em vão

Eu comecei a enumerar nos dedos quem poderia sentir
a minha falta: sobraram dedos. Todos estes que estou olhando agora.
Caio F Abreu

É engraçado como o tempo vai passando e a gente às vezes nem percebe. Muitas coisas e pessoas que eu julgava importantes e esperava ter p'ra sempre, foram. Simplesmente foram. Outras...outras estão aqui e talvez eu nem lembre como chegaram, mas estão.

Andar por aí, sem rumo, rindo da vida, das desgraças alheias e fazendo planos. Ah, planos! Ultimamente não tenho me importado muito com eles. A vida tem me levado e é isso.

Baby, não chore, foi apenas um corte.
A vida é bem mais perigosa que a morte
Suporte...

As coisas mudam e eu sinto que são boas mudanças. Os "bons ventos" sempre vem.

Stella Maris,guarda um bom rumo pra mim
Que eu não quero desistir

Amigos, um bar qualquer e pessoas que não mudam. Nunca mudam. Dane-se.

E lá vamos nós.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Completamente estúpida

Além disso, sou terrivelmente instável
e entender minhas reações é coisa que
às vezes nem eu mesmo consigo.
Caio F. Abreu
E depois, - de muito tempo - eu começo sentir aquilo tudo de novo. Aquela vontade incontrolável de sabe-se lá o quê que há dentro de mim e faz com que eu me sinta o mais estúpido dos seres humanos. Ah, a vida.
Aquela vontade de estar perto, se longe e mais perto se perto. Tudo que me confunde e eu nem sei mais explicar, porque na verdade, nem lembro como é.
De repente, uma saudade irracional de você, só isso. É o que me faz ficar aqui, escrevendo como uma adolescente.
Obrigada por me fazer sentir...viva.

domingo, 30 de janeiro de 2011

preenchendo a insônia

Realmente não me importa ter que, um dia, começar tudo de novo.
Estou me complementando aqui, eu acho, e depois não sei.
(Caio F. Abreu)

E antes de aprender a ser livre,
tudo eu aguentava - só para não ser livre...
(Clarice Lispector)


De repente, pra se ter coragem é necessário ter medo. É tão difícil pensar nisso. O medo sempre me travou em algumas coisas; o medo de perder, de seguir em frente.
Às vezes, quando você nota que está indo contra aquilo que prega pode notar, ao menos por um instante, o quanto o mundo é irônico.


Quando a gente segura um vidro a gente tem medo de quebrá-lo.



Engraçado como algumas coisas aparecem no momento certo. Mas, de vez em quando, simplesmente tem que acontecer, Caio, e não podemos evitar.

A vida é doce!

O marinheiro fantasma. Obrigada Caio e João Luiz, por melhorar minha visão e me ajudar a seguir em frente. Estou liberta agora.


Caminhando com ninguém,
a cidade ao meu redor
eu quero um alento para um recomeço!


"Que seja doce!" É a frase do ano e eu espero que seja.


Boa noite!

depois não sei


Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das
pessoas apenas existe.
(Oscar Wilde)
Você não é minha destruição. Se eu fosse considerar, já o fazendo, eu sou minha a própria. Eu torno as ciosas ruins maiores, piores. Insuportaveis. E tomo as dores por isto. Absorvo. Ou talvez eu seja uma das poucas que enxerga o verdadeiro lado da realidade.. Mas mesmo assim ainda me iludo.
Você viu meus auto-infligidos. Eu vi os teus e assisti à tua dor. E mesmo assim, senti uma vontade maior de estar junto à ti, de poder afastar o mal que te assombra, pois sei que juntas nos tornaríamos fortes o bastante para suportar isso tudo..Ou talvez o nome disto seria felicidade.
As coisas boas que por raridade aparecem em minha sobrevivência, talvez passem por despercebidas por meu olhar perdido e sem foco.
Porém, tropecei em uma pedra raríssima no meu jardim de espinhos; e antes de me arrastar em frente, olhei para ela, e pela primeira vez meu olhar teve um foco, minha face apresentou um sorriso verdadeiro de algo bom (que até os dias que passam, não sei explicar bem o que é), e eu me tornei viva.

Anny, se você não suportar, saiba que eu lhe buscarei (e sabes o que estou querendo mencionar). Você faz parte de meu ser agora, e eu não viverei sem parte dele. Eu te amo.

domingo, 23 de janeiro de 2011

enfim.

A gente nunca sabe o que nos espera do outro lado.Às vezes, um simples e pequeno passo torna a tua vida diferente e você fica olhando p'ra trás e se perguntando "como tudo teria sido se eu tivesse pego a outra estrada?"

"Diante de mim havia
duas estradas. Eu escolhi a menos
percorrida e isso fez toda a diferença."

(Robert Frost)


Não, não pense que é arrependimento. Estou feliz em ter pego está estrada, embora, ache que não é a estrada de tijolos amarelos; só queria entender melhor algumas coisas (talvez, eu devesse começar por uma suave tarde de novembro...). Mas cada vez mais percebo que realmente escolhi a menos percorrida.

Ah, o cansaço. Estou realmente muito cansada e sei que há alguma coisa que precisa ser salva antes que fique demasiadamente tarde demais. E em cada noite, descobrir um motivo razoável para acordar de manhã.

Essa morte constante das coisas é o que mais dói. É. Talvez seja esse o (re) começo.

Santidade de escrever,
Insanidade de escrever
equivalem-se. O sábio
equilibra-se no caos.
(Carlos Drummond)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Tudo bem, Bob Dylan, você tem razão...


Não foi nada. Deu saudade, só isso.
De repente, deu tanta saudade.
(Caio F. Abreu)

Não aprendo. É uma luta contra mim mesma. Meus olhos insistem em não enxergar, em permanecerem egoístas. Isto só faz meu coração ficar cada vez mais cego. Sozinho.
Mas meu mundo não pode correr só, e felizmente, existem pessoas que além de empurrarem-no, juntam-se à ele em uma jornada, dispostas a caminhar e enfrentar. Dispostas a darem de si. Dispostas a apoiarem. Dispostas a amarem uma garota perturbada. Vozes. Sombras. Pesadelos.
Até que ponto eu ousaria em julgar? Até que ponto eu me isolaria em meu quarto, e passaria madrugadas em meio ao sangue puro, fiel e inocente, porém ignorante? (Não vou mentir, ainda sou fraca, e ainda o faço).
Até que ponto vou suportar e continuar a machucar seres que só tentaram uma aproximação?
Sou assombrada, e isto não vai me deixar tão cedo.
Na foto extremamente velha, eu junto a doce Francielle.
Devo muito à ela. Desculpas, à princípio.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Good Lucky!

Sim, havia muitas coisas alegres
misturadas ao sangue.
Clarice Lispector

Como é que eu podia saber que aquelas
rosas eram carnívoras?
C. Fernando Abreu


E, na verdade, não era a vida que a assustava e sim a morte. A ideia que de tudo poderia simplesmente acabar de repente e de um corpo cheio de sonhos, adrenalina, receio e vontade, se tornar um corpo em putrefação em baixo da terra.
Mas um dia, simplesmente acordou e perdeu. Perder. É uma palavra tão dura e nunca nos damos conta de que algumas coisas podem fazer falta e você só nota que elas fazem falta quando não estão mais ali. E ao perder, mudou; sem perceber e ao mesmo tempo percebendo.
A vida era essa e agora ela vivia destemida; cansada de gente chata, careta. Descobriu que só quem se mostra se encontra, por mais que se perca no caminho...
E agora, ela ansiava por percorrer cada centímetro desse caminho e sentí-lo inteiramente, poder degustá-lo como a uma torta de limão, que ao mesmo tempo em que é doce, também é amarga.

"E eu vou jogar aos céus meus braços
e não olhar mais p'ra trás."
N. Altro

E agora ela iria "para a vida" sem temer o amanhã. Fecha os olhos, sente a brisa e se entrega...pela primeira vez, em muito tempo, não se preocupava e nem temia o amanhã; apenas esperava. Que seja doce!