quinta-feira, 18 de novembro de 2010

o tudo

E quando te ferirem,
deixe que o sangue jorre
enlouquecendo também os
que te feriram.
(Caio F. Abreu)

Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja.
Não me apetece viver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas água com açúcar. Não sei brincar e ser café com leite. Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem suficiente pra me dizer o que sente antes, durante e depois ou que invente boas estórias caso não possa vivê-las. Porque eu acho sempre muitas coisas - porque tenho uma mente fértil e delirante - e porque posso achar errado - e ter que me desculpar - e detesto pedir desculpas embora o faça sem dificuldade se me provarem que eu estraguei tudo achando o que não devia.
Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me fazer crêr que é para sempre quando eu digo convicto que "nada é para sempre."

domingo, 14 de novembro de 2010

extremamente interior

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou.
Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho.
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos - sou eu que escrevo o que estou escrevendo. Deus é o mundo. A verdade é sempre um contato interior e inexplicável. A minha vida é a mais verdadeira irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique. Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao próprio último ou primeiro pulsar. A dor de dentes que perpassa esta história deu uma fisgada funda em plena boa nossa. Então eu canto alto agudo uma melodia sincopada e estridente - é a minha própria do, eu que carrego o mundo e há falta de felicidade. Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.

extremamente interior

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou.
Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho.
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos - sou eu que escrevo o que estou escrevendo. Deus é o mundo. A verdade é sempre um contato interior e inexplicável. A minha vida é a mais verdadeira irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique. Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao próprio último ou primeiro pulsar. A dor de dentes que perpassa esta história deu uma fisgada funda em plena boa nossa. Então eu canto alto agudo uma melodia sincopada e estridente - é a minha própria do, eu que carrego o mundo e há falta de felicidade. Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Vem dançar a dança das estações

Engraçado ver tudo começar de novo! O nervoso, a vontade de adiar tudo, cancelar, esquecer... Mas, ah, é gostoso, é sim, ver o interesse nascer naturalmente, e querer estar perto, se longe, ou estar mais perto, se perto, - que é que eu sei!

Fica perto então
que tanta solidão já feriu demais.

Não, não, talvez eu esteja me precipitando. Talvez ainda seja cedo para aceitar essa maluquice novamente. Acho que não estou pronta para separar o que sou eu do que ele foi. Calma! A vida é aos poucos. Ou não. Por que é que nesse mundo não tem paz? Por que tanta paixão?

(Um dia desses eu te conto a minha história)

Quem será que me buscaria no Hades? No inferno, quem sabe.
A vida acontece de repente. O amor é que chega de mansinho. Aos poucos a gente aprende - que esperar não basta.

Gosto de te ver rindo
e da riqueza das coisas simples
que guardo qual tesouros.
E a beleza está em não ter pressa.
Que corremos demais, meu amor,
e é hora de parar, deitar na grama,
falar só besteira e rir da vida.


A gente tem de andar conforme dita a nossa necessidade, e chorar, chorar, amar, amar e amar, assim, de repente, do nada, nem que seja pela primeira vez. Me explica com que cara eu vou sair. Nem que seja pela última vez, olhar aquela vida toda que esteve nas suas mãos, aceitar a nova morte como tantas vezes buscara a bela.
Não. Quero vivê-lo em cada vão momento. O novo. O mundo todo, todo, todo. Essa busca perdida pelo que uma única vez fora achado - e ainda no lugar errado. Não há arrependimento. Todo amor, real, nem que além de todas as possibilidades, nem que um já não saiba, já tenha perdido a capacidade de aceitar essa mão, todo amor, bem feito, é uma parte que morre, ou que vive, não sei. Não sei. Sei que o mundo é grande, que a vida, que a vida só a mim pertence - por mais que eu tenha tentado tanto deixá-la onde não devia, com quem não devia. Com quem não devo. Pelo que foi, tudo valeu.
Orfeu, o mundo é meu, Orfeu.

domingo, 7 de novembro de 2010

pela janela

"Perder-se também é caminho"
(Clarice Lispector)


Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam,
para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem
deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali,
Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.

uma tarde dessas

"Canibais de nós mesmos,
antes que a terra nos coma...
Porque a gente é assim?"
(Cazuza)

À procura de novos vícios, embora seja o que eu menos precise no momento. Talvez o cigarro seja uma alternativa; preciso de algo que preencha esse vazio insesante e incompreensível que há aqui dentro e a sujeira do cigarro, a sujeira contida em sua fumaça talvez fosse o que mais corresponde. Algo que preencha a alma? É, talvez. Talvez.
Com o sol a pino, me vi andando perdida por lugares onde sempre estive, mas que agora fazem parte de uma lembrança tão distante. Ah, uma vontade de me perder de repente por aí, sem que ninguém possa me encontrar. Cinco anos.
No último ano tive tudo, mas a insônia é a amiga permanete, não me deixa, nem que eu peça; está sempre aqui, lado a lado, me fazendo pensar e colocando meus demônios na minha frente. A falta.
Seres humanos, feitos de carne. Sim, é do que somos feitos e estamos completamente
sozinhos. Insatisfeitos, portanto.

"Ah, tenta não ligar pra essa gente chata e sem graça"
(N. Altro)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

uma orelha envolta de um pano vermelho


As suas mãos me acenam, não parecem
ter morrido; cheia de presentes, caixas coloridas(...)
Vou correndo, vou agora, resgatar o meu amor
(Cazuza)

Um grito fino que estremeceu até as paredes do inferno. Grito profundo. Lágrimas de ferro. Ele a havia perdido para sempre; para todo o sempre...Sua visão se tornava ofuscada e aos poucos, a figura que representava sua vidae toda sua felicidade se perdia no vento.
Agora, essa era a única cena que vinha em sua mente
: o grito, o fim, o grito, a volta.
Em meio a cantos, enquanto seus membros são dilacerados, ele sentia uma alegria: afinal, não era o fim.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

que vá

Como é que eu podia saber que
aquelas rosas eram carnívoras?
(Caio F. Abreu)


Quando Dafne finalmente se jogou nos braços de Apolo, ela morreu queimada.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

ao que é bom nesta vida

Não sei viver de mentira.
Não sei voar de pés no chão.
Sou sempre eu mesma,
mas com certeza não serei a mesma pra sempre.
(Clarice Lispector)




Tudo mudou
O que foi que aconteceu
que de repente acordamos nesses dias?
Ainda posso sentir o sabor
do que a gente perdeu.
E ainda penso em você, acredita?

Vem dar valor ao que é bom nessa vida
que é tolice viver por viver,
e já é dia de deixar pra trás a dor e o "tanto faz".
É cedo ainda.

Fomos tolos e egoístas pra crescer.
Crescer sem alegria.

Dizer "pra sempre" é bem menos
do que sentir na carne querer de verdade
E tem coisas que não vão sumir, você sabe
Tem um lugar em mim que é só teu
e nada vai mudar porque é meu.
Mesmo que a gente deixe errado
a que a gente escolheu.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

morte...





E como quem sai de um enterro
Cheguei e coloquei toda a roupa pra lavar.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

balanço

Eu era como uma criança em um balanço, tomada de um frio na barriga que me fazia querer parar, descer, desistir; ao mesmo tempo em que me impelia a continuar de todo jeito. E era sempre assim. Uma angústia que só se repetia enquanto o balanço descia - e que era esquecida logo que ele voltasse a subir. No entanto, não me preocupava descer do balanço, porque sabia que ele continuaria ali, e que sempre haveria muitos balanços no mundo.
Saí da escola, então. Deixei o antigo balanço para subir em outros - maiores, coloridos, fascinantes. Por muito tempo, ocupei-me com aquela sensação de paixão e pavor, sem dar conta de que era ela que me prendia à vida (e não o brinquedo em si).

Até que um dia me cansei do balanço e segui em busca de um novo tormento.

Amei, enfim.

Eu era tão criança e ainda sou
Querendo acreditar que o dia vai raiar
Só porque uma cantiga anunciou