sexta-feira, 11 de março de 2011

Com açúcar e com afeto

Que curioso. É verdade que temos nos encontrado
em outros sonhos.
Gabriel Garcia Marquez
-
E amanhã não desisto. Te procuro em outro corpo,
juro que um dia te encontro.
Caio F Abreu


Na verdade, nunca me olhou. Seja por falta de tempo, lugar, espaço; mas o efetivo encontro nunca ocorrera. Ainda assim, tocou meu coração de maneira inigualável, deixando-me sedenta de uma sede que não sei explicar de onde ou como vem. Sede. Fome. Necessidades humanas jamais explicadas, mas necessárias para a simples sobrevivência.

Era eu quem olhava pela primeira vez. Acendi um cigarro. Traguei a fumaça densa e suja, e por alguns instantes, uma tontura quase de embriaguez atingiu minha cabeça. Eu olhava-o e tentava me equilibrar.

'Às vezes, em outros sonhos, pensei que você é apenas
uma estatueta de bronze no canto de algum museu.
Talvez por isso sinta frio.'

O frio congelante diante da dificuldade de me manter em pé. Sensação efêmera. Será que teria gostado de escutar minhas sandices?

Brincas com o tempo sem dar-se conta da importância que ele tem. Ou talvez dando-se conta da importância, mas sem querer nada. E eu fico ali, rasgando-me. Serena. Incapaz. Imóvel diante de tudo, sem ter o que fazer a não ser esperar. Esperar o fim.

A simplicidade de fazer com que tudo pareça fácil atraia meu olhar para você. E em um processo doloroso, vou me apegando, sentindo, sofrendo.

Há vários anos nos víamos. Eu via, ao menos. Quase cem? Vá, é um número estupidamente ridículo. E pouco a pouco, compreendia que nossa amizade estava subordinada as coisas simples.

'Vem dar valor ao que é bom nessa vida
que é tolice viver por viver já é dia de
deixar p'ra trás, a dor e o tanto faz...'

E com o rosto colado na parede, ouço o vento bater lá fora. Silêncio. A respiração calma de alguém adormecido que acaba de se virar na cama, como que num sono confuso, inquieto. Assustador. E de repente, ver que sou eu ali, a dormir fez com que uma adaga quente transpassasse minha carne. A dor súbita de que quando você está prestes a morrer num sonho, automaticamente acorda.

Entre a respiração ofegante, o medo e a desconfiança do que é real e do que não é, tento buscar oxigênio.

Tocou-me. Entrou em minh'alma contaminando-a com uma melancólica tristeza alegre alaranjada de pôr-do-sol, que tenho muito orgulho de sentir. Agora sinto que sou mais parte do mundo que quero p'ra mim. Obrigada, Gabo.

Um comentário:

  1. É bem igual a Tais me falou mesmo, ler seus textos irrita UHASUASHUA É, Wendy, mas irrita de forma boa, fique tranquila e nunca perca esse seu estilo, é só seu e é adorável (:

    A não ser a parte da tragada no cigarro. É. Menina má, Wendy.

    ResponderExcluir