terça-feira, 1 de março de 2011

Domando demônios - parte I

"Vamos começar por aquela singela tarde de novembro,
em que vi tudo mudar..."
Dom Casmurro

A sujeira proporcionada pelo cigarro engana e de certo modo aquieta o demônio faminto e devorador que há dentro de mim. Mas o pior de tudo nem é isso; pior é o fato de eu ter me acostumado com ele aqui, alimentado apenas para que ele se acalme. Sensações fulgazes de uma vida tão perdida.

E eu lembro da primeira vez que aprendi a domar (meus) demônios. Foi numa tarde quente de novembro naquele lugar sujo que me trazia a sensação de lar. Lar. Apenas uma enganação de tudo aquilo que queremos e procuramos.

Apinéia. Alice.

E foi ali, naquela singela tarde de novembro em que eu vi tudo mudar e se transformar.

E veio o álcool. A poesia. Baudelaire. Drummond, tão querido. Kafka. Sergei. Caio. E tantos mais que tornam tudo mais completo. O tudo. O nada.

E de repente, descobri a verdade. A verdade que estar errado é na verdade, nunca estar errado; tudo que pensamos que é errado não passa de algo que implantaram em nossa cabeça.

Então, sem notar, aos poucos, me libertava das amarras que me faziam condenar-me tanto.

Mas o demônio dominador continua aqui. Inquieto. Sedento. Dominador dessa alma que parece não ter sossego. Porém, agora, já consigo domá-lo. Insistindo. Persistindo.

Pois, é Bentinho, realmente, tardes de novembro podem mudar vidas.

Um comentário:

  1. E é por isso que eu amo o jeito que você escreve, o jeito que você articula seus textos. Saudade fadinha!

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